domingo, 5 de fevereiro de 2012

traga sua alma amanhã,
quando você vier buscar aquele livro,
e não se esqueça de esmerilhá-la
porque o mercado é exigente.

sugaram a minha toda ontem
enquanto eu, distraído,
dava de comer aos meus olhos cansados.

vamos vender também o que nos resta de ossos,
sobretudo a espinha dorsal,
um amigo meu os vendeu ontem.
até que ele se vira se arrastando por aí,
só com pele e carne,
espetáculo meio triste,
mas o ruim mesmo são as formigas,
e os cães que mijam em qualquer lugar.

e essa inteligência que você tem no bolso?
cuidado, a essa hora na rua...está fazendo volume.
deixe-a aqui em casa
que eu estou precisando mesmo
de um peso de papel.

boa noite.
durma bem.

sonhos?!

não os tenho mais,
vendi a um poderoso mercador,
os dele estavam minguados,
aguados.
os meus queimavam, aguardente,

meus dentes?

não. preciso deles.
às vezes não entendo direito a novela,
e preciso mastigar por horas a fio
antes de dormir.