sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Algumas flatulências recentes

O CASTELO
Para Franz Kafka, meu irmão espiritual


encontraram um casal
recheado de cocaína e êxtase
misturados ao resto do recheio bom-moço
de um avião.

ambos bolivianos.

o povo,
com a mente recheada por lixos policiólatras
como CSI e Na Mira,
sentem reforçar-se dentro de si
o velho pré-conceito
contra tudo que não é branco-anglo-saxônico.

esses latinos são mesmo uns degenerados!
sempre eles, são eles o mal...

:são?

para mim,
90% do contingente da mão de obra global
é composta por afro-descendentes,
indio-descendentes,
e tudo que os donos desta sucursal oval
consideram sub-raça.

ora,
sendo assim,
por que seria diferente no tráfico?

afinal,
é amplo o leque dos subrmpregos
destinados a nós: sub-raça desta subamérica

mas de algum lugar do Castelo do Simulacro,
os Patrões controlam todas as filiais.

são vários os subempregos,
mas os patrões são os mesmos.


Sobre Conjuntos


Havia o conjunto da minha vida
Como na matemática
E o conjunto da santa santa litera-
tura Beat,
e havia o Ginsberg, e o Lawrence,
e eles eram elementos do
conjunto Beat,
e eu era o elemento do conjunto
de minha vida
e eu queria refletir
e refletia,
mas não dominava
o jeito argumento
o discurso prosa
a filosofodissertologia,
escrevendo
eu era tão articulado
quanto um flamingo
ou o Albatroz de Baudelaire,
e haviam tantas flores, e o mal
germinava em mim tantas flores
e eu queria tanto ser uma flor do mal,
mas meus poemas saíam so so so
extensos.
Foi então que se deu a Operação Matemática:
O conjunto Minha Vida
Chocou-se com o conjunto Literatura Beat,
E num passe de lógica,
Nossos elementos intercederam-se,
E eu descobri um troço chamado “condesnsação”,
Então em passei a comprimir milhares de informações
Em espaços exíguos como o cafofo em que eu moro,
De repente minha poesia já não era arte,
Era campo minado,
Cápsulas de explosão sígnica,
E
Lá se ia
Qualquer possibilidade
De escrever para os “simples”
.


Sobre Cavalos e o Ser

eu tenho cinco cavalos,
todos doidos,
são de fogo, e suas crinas são fumaça

se alimentam de beijos e ofensas,
belas praias, cigarros, livros,
e suas ferraduras são a voz de Hank Williams
numa noite sem lua.

por onde passam meus cavalos
fica impressa a marca da sede,
e qualquer água falsa de religião evapora
com o simples mirar dos seus olhos de lava.

nem em sonhos, meus amigos,
nem nos reinos oníricos estou livre
dos meus cinco cavalos doidos,

e vez por outra
um deles sopra-me ao ouvido:

“se nós morrer-mos, Rafael, morre tudo que tu és.”


Brahmastra

Parabólicas captam o éter memórias do último apocalipse,
transando cores estroboscópicas de um soturno amanhecer.
Quando será que a Virgem casará com o Cavaleiro de Alumínio,
sendo que milhões de anos se passaram,
e ao agora o Rei de Copas resolveu dar a sua mão em casamento?

Ah, alucinam-me as estrelas à noite,
e casa litro de hidrogênio que delas sorvo!

Cubro-me de fogo, minha carne ferve,
mas é preciso realizar tal batismo toda noite,
com cigarro, jazz e álcool,
para que os cadáveres não se acumulem.

O Grande Olho paira no céu,
e acho melhor ocultar-me com a capa de breu
antes que as garras da tarântula me aprisionem
na teia do tormento eterno.

Haverão asas, ainda, de fúria indomável,
singrando os céus de chumbo, com garras de vespa,
e Espaço vencerá Tempo, com dardos embebidos em mescalina,
na maior e mais silenciosa de todas as batalhas.

sábado, 4 de setembro de 2010

200.

Vou cantar a canção dos desvairados
Dos que não piscam
Dos que, em meio à cultura do alerta
Permanecem voluntariamente desavisados.
Vistas desanuviadas, aurora que antecede o galo,
Eu vou provar que nem toda noite
Torna os gatos todos pardos.
E vou trotar num furacão de fogo,
Sobre a corja em chamas dos simples e abnegados.
Dá-me vinho, demônio conjurado,
Senão rompo teu círculo, esmigalho teu selo,
E voltarás a tua torre humilhado!