quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O ùltimo Cigarro

Neste pátio de convento
que não é meu, e hoje é faculdade,
fumo, só, o último cigarro da carteira,
e considero mais uma vez ser ele o último
da minha vida.

Mas a vida range, porta velha,
e eu sempre volto ao cigarro.

Lá fora um mar de corpos
cresce, numa cheia ininterrupta,
recebendo rios que desaguam
de ruas adjacentes.

Quando vaza, só os seres abissais,
luminescentes.

Seria muito rock'n'roll
se estourasse uma revolta
nesse mar, que é tão monótono,
e o dia naufragasse trôpego
em suas agendas,
e de todos os compromissos
só nos restasse o de vivermos melhor.

Os modernos shoguns em pânico!

É esse eol no cimento que me alucina,
não estoura nada.
Lá fora, só o marasmo e a rotina
da divisão social do trabalho
(e da arrecadação privada dos frutos).

E vai se acabando o meu último cigarro,
o meu mais santo remédio contra a náusea.

Micro-manifesto da minha pseudo-poética

Eu não faço poesia,
eu amolo pedras.

Eu não faço poesia,
eu bulo em serpentes
cobertas de feridas.

Eu não faço poesia,
não tenho tempo para pesar
ponderar e burilar
como fazem os verdadeiros poetas.

Eu não faço poesia,
eu me insurjo contra a brutalização.

Espelhos Tortos

Espelhos tortos

Do seu carro japonês,
o homem olha para o ônibus
ao lado.
... O trânsito está paralisado,
e o ônibus, abarrotado.

Para onde vai essa gente?
De que buraco sai esse povo?
Onde eles passam a noite?

"Não sei,
só sei que Iraildes
chega lá em casa às sete.
Gosto de pontualidade,
aprendi na Suiça."

Aflito, o homem do carro japonês
olha o seu relógio de ouro.
No ônibus ao lado,
Iraildes nem percebe o carro japonês
do seu patrão.

Já deveria estar em casa, dormindo,
seu Clóvis cobrava pontualidade.
Mas fazer o que?

Ela não tinha carro japonês,
e a cidade não tinha trens suiços.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Manutenção da Ferida

na estria dos dias
o astro pendido do betume
do espaço.

selvagem,
soturno,
veste de mendigo,
sol de boate à meia-noite.

e sempre a mesma ladainha vertigens e luzes místicas ou saudades da origem perdida e a buscaeabuscaeabuscaeabusca...

nesta manhã, em que há tanto a fazer,
o poema insurge-se fênix,
babando letras ácidas,

maantendo aberto o corte
(anti-célula)
para que o sangue escorra livre,

para que a carne não vire
fóssil.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Rock & Metal Lyrics: Running Wild. Fight The Oppression



Lute Contra A Opressão

Ogivas atômicas, armas de todos os tipos
Inventadas para destruir
Para encontrar suas vítimas, para aniquilá-las
Falsos governantes, ministros da defesaT
e levando à guerra
Você não vê onde tudo isso termina?

Destruição total, a morte do adversário
Contaminação, epidemias e medo
Derramamento de sangue continuará até o último suspiro
Sem solução se o sangue alimenta o mecanismo
Lute contra a opressão, (agora!)
Lute contra a opressão, (abaixo!)

Megalomania, a doença dos governantes
Decepção e traição
Sua vida é o que eles se apoderam
Toda a liberdade está morrendo, reinar é a lógica
Te levando à guerra
Você não vê onde tudo isso termina?

Destruição total, a morte do adversário
Contaminação, epidemias e medo
Derramamento de sangue continuará até o último suspiro
Sem solução se o sangue alimenta o mecanismoLute contra a opressão, agora
Lute contra a opressão, (abaixo!)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Poemas de livros hipotéticos: Sonho

Seduzo a besta,
e acaricio-a suavemente com dedos de aço.
Nunca quis abrir aquela porta,
embora ela brilhasse e meus olhos doessem,
e os olhos vermelhos brilhando ao fundo
sempre me seduzissem antes de dormir.

Entro na porta,
subo as escadas,
meu coração espera, batendo,
num altar de escamas verdes.

Grito,
ao descobrir que nada bate ali,
e que sempre vivi a orla exterior
da minha galáxia-vida.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Poemas de Livros Hipotéticos: Hecatônquiros. Poema 1.

poema é punheta, punhal,
pílula do dia presente,
pústula purulenta,
putrefação infestada de vermes em festa
(letras).

poema é pó, pergunte e ele te responderá,
diluído em suco gástrico,
semente nerudiana ardendo em sulcos na página.

(pélvis só, gotejando sumo, triste pau mole, sumô solitário).

poema é postulado de loucos sem apriorismos,
post-script, post-mortem do poeta,
pilar de ossos na montanha negra
em meio à treva devastada.

(cuspe de morfético. morfina de efeito inverso, jogo de espelhos que se erram).

alvo escuro crivado de incertezas,
o poema é sempre um eco
emergindo do oco.

os melhores poemas
são secos como socos.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Poemas de Livros Hipotéticos: Hecatônquiros. Poema 2

2.
Pela fresta da página,,
pelos pêlos da epiderme
(branco-osso, linhas azuladas,
ventos gélidos surfando a face).

Memória, criação, reciclagem de palavras,
latidos de cães lactentes,
e um pulsar agonizante,
trasladando um pulsar suspenso em nebulosa.

[Tessitura, partitura, rompimento com o sorumbático emocional absoluto]

Tomo o pulso do poema,
e ainda há vida nele,
e se há nele, há em mim.

Latrina de todas as fezes,
Mãe-mor de todas as fossas fétidas,
concubina de Satanás num harém do inferno,

há um deslimite mas o jorro embora impetuoso sempre encontrará paredes e canais
por mais largos que esses sejam
(a língua, sintaxe, ser minimamente compreendido).

Entre solipsismo e comunicabilidade,
uma árvore cresce, com raízes espraiadas,
mil braços de Avalokiteshvara,
e em cada mão, um objeto,

um lutador cercado
cuja concentração da atenção
significa morte.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Saída de Emergência



Marcos chegou em casa às dez e meia da noite. Mais um dia de busca por emprego. Mais uma entrevista infrutífera. Mais uma promessa de “estaremos entrando em contato caso surja uma vaga”. Desde que concluíra, a muito custo, o ensino médio, a sua vida vem sendo uma Odisséia de sub-empregos, o que não raro o fazia sentir-se sub-humano. Ele nunca soube o que é um emprego seguro, e um mestre de obras para ele equivalia a um Escolhido dos Deuses.
Nada de comida nos armários enferrujados do quarto-cozinha quentíssimo e mal pintado. Na geladeira, só um restinho de feijão e uma colher de sopa de arroz, além de um ovo, o último. Que faria no dia seguinte? Se ainda fosse um dos queridinhos da família, poderia pedir um dinheiro emprestado, mas, ainda que conseguisse o empréstimo, como pagaria? E quando esgotasse o dinheiro emprestado, o que faria? Pediria mais e mais e mais e mais? Ora, para tal prática há um nome preciso no léxico da língua portuguesa: mendicância. E essa palavra não parava de ecoar na mente de Marcos, que sob o chuveiro, agachado, lembrava de todos os mendigos que vira naquele dia. Mendigos nas calçadas, mendigos nos ônibus, alguns necessitados de alimento, outros já presas do crack...
Saiu do banho. Se enxugou com uma toalha esburacada. Acendeu a única boca que funcionava no fogão velho, e colocou sobre ela a única frigideira que possuía, e que já estava totalmente amassada e sem cabo. Colocou um filete de óleo de soja, e quando este estava suficientemente aquecido, estalou o derradeiro ovo. O mal-cheiro que escendeu da frigideira e a coloração escura do ovo fizeram Marcos sentir-se o mais desafortunado dos homens. O ovo, o último, estava estragado.
Essa noite só haveria uma porção de feijão velho e uma colher de sopa de arroz endurecido. Depois, dormiria, para não arriscar-se a sentir fome novamente. No outro dia iria de estabelecimento em estabelecimento do seu próprio bairro em busca de qualquer serviço pelo qual alguém estivesse disposto a pagar. Tentaria também oferecer-se para capinar quintais, e procuraria algum pedreiro que aceitasse ajudante, mesmo sabendo que não tinha a menor qualificação para isso.
Mas, supondo-se que Marcos conseguisse alguma obra para servir como ajudante, e quando a obra acabasse? Haveriam tantas obras assim para mantê-lo alimentado por um ano? A mesma indagação se aplica à capinação de quintais.
Precisava de um emprego, rápido. Mas aos quarenta anos nenhum call Center o aceitava, nenhum Buffet, nenhum restaurante, nada! Estava desempregado, sem qualificação, sem perspectiva, e quando olhava para o seu futuro só via três opções: a mendicância, o crime e o suicídio.
Marcos não tinha o menor talento para o crime.
Sentou na cama. Olhou para a sua pequena biblioteca. Velhos companheiros: Lorca, Hemmingway, Kafka..., e que diferença faz agora? Ganharia uma bolsa do governo por entender Wittgenstein? Por ter lido e relido “Os Irmãos Karamazov”? haveria uma vaga de professor de literatura russa nas escolas públicas esperando por ele? Não, ele não tinha os canudos, não tinha os passaportes, estava impedido de voar por não atender às exigências burocráticas, como na música de Raul Seixas.
Quando criança sua brincadeira predileta era de professor. Aos 14, sonhava em lecionar filosofia, e incitar jovens a adotarem posturas mais críticas, poéticas e combativas.
Pensou nos seus sonhos de moleque, pensou nos espancamentos sádicos ministrados por seu pai. Pensou na sua mãe atirando-se de um prédio com a cabeça encharcada de tarjas-pretas, um dia depois da pior surra da sua curta vida, também aplicada pelo carrasco oficial da casa, o pater famílias, como dizia Marcos nos seus poemas. Finalmente chorou, amargamente, com esgares lancinantes que assustariam os vizinhos, se estes não estivessem vidrados no último capítulo da novela.
Correu para a cozinha. Pegou o álcool.
Encharcou os livros na estante, riscou um fósforo, ateou fogo, e deitou-se na cama em posição fetal. Em poucos minutos toda a casa ardia em chamas. Os vizinhos da pequena vila onde morava chamaram os bombeiros, mas estes chegaram tarde demais. Não para salvar a casa, mas para salvar o homem que jazia agora irreconhecível, carbonizado, assemelhando-se a uma semente de feijão preto fumegante. O cheiro da carne humana tostada era horripilante e nauseabundo.
Os parentes de Marcos chegaram, logo após os bombeiros, e todos chegaram logo após o fim da novela. A mãe de marcos chorava de verdade, embora tarde. Outros pareciam chorar, mas na verdade tinham os olhos irritados pela fumaça. Outros ainda choravam mais verdadeiramente que a mãe de Marcos, eram os donos do imóvel. Pancho, o gatinho preto de Marcos e sua única companhia, chegou, entrou na casa, olhou tristemente para o corpo do dono e fugiu, para nunca mais ser visto.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fresta



1.
A Coisa estava ali, no meio da rua. Ninguém sabia ao certo o que era, nem de onde tinha vindo. Nenhum dos observadores sabia dizer com exatidão como tinha aparecido.
Era grande, e em tudo assemelhava-se a um tumor. Estava úmido, exalava odores pungentes e indescritíveis. E pulsava, latejando em pontos variados.
Quando a polícia chegou, todos se afastaram, com os olhos vidrados na Coisa, tão vidrados que nem perceberam que aqueles homens não trajavam uniformes de nenhuma força militar brasileira. Cinco homens cobriram a coisa com uma espécie de lona que ajustou-se à coisa imediatamente após entrar em contato com a sua superfície úmida.
A Coisa não pulsou mais, pareceu petrificar-se, e os cinco homens rolaram-na para dentro de um caminhão-baú preto. A epiderme do asfalto ainda testemunhava que ali havia estado algo enorme, esférico e úmido, e tal testemunho era dado através de um disco de fluido que refletia distorcidamente as luzes da noite citadina.
No outro dia o âncora do telejornal noticiou que um jogo militar havia sido realizado na Ladeira da Fonte, ao lado do Teatro Castro Alves, um jogo que envolvia reações a armas biológicas. Em tal jogo, segundo o âncora, havia sido usada uma réplica de bomba bio-mecânica-bacteriológica engendrada por um grande estúdio de efeitos cinematográficos.
Com o tempo, a história foi digerida pela população. Com exceção dos transeuntes mais desconfiados, que se lembravam muito bem de não ter visto movimentação militar alguma antes daquela coisa simplesmente aparecer no meio da ladeira.

2.
Dona Brígida, moradora de rua, sentada num banco do largo do Campo Grande, lembrava, catatônica, do que aparentemente só ela vira: Um ser indescritível e titânico esgueirando-se através do céu noturno, abrindo-lhe uma fresta como se esse fosse uma cortina de veludo, colocando cuidadosamente aquela massa pulsante no meio da Ladeira da Fonte. Era como se a cidade de Salvador fosse uma casinha de boneca que dona Brígida tivera quando criança. Mas não foram só casinhas de boneca que estiveram presentes na distante infância da simpática habitante das ruas do Centro. As visões também, e numa tal freqüência que a deixaram transtornada, alcoólatra, execrada da família e da sociedade dita normal.
Mas nenhuma visão se equiparava àquela.
Daquela noite em diante, dona Brígida não saiu mais do Campo Grande.
Jônatas, um garotinho de onze anos que fazia malabares no farol do Largo dos Aflitos, lhe trazia refeições frugais uma vez por dia (achava-a parecida mãe morta por um soldado da polícia).
A velha não falava mais, só olhava o dia inteiro para o céu e rascunhava uns papéis puídos. Jônatas achava os rabiscos parecidos com os que via nas revistas em quadrinhos que folheava de vez em quando na banca de revista do Shopping Piedade, e como andava cansado de ser escurraçado pelo jornaleiro, dera para entreter-se com os rabiscos de Dona Brígida. Imaginava-se cavalgando aqueles seres enormes que voavam livres entre as estrelas e espiavam furtivos fendas abertas nas cascas dos planetas.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Reencontro com K.

Kafka, por R. Crumb

O sanatório estava lotado. O homem que havia chegado ensopado até os ossos tiritantes estava tartamudeante de tanto frio. A exemplo de um personagem seu, ninguém entendia suas embromações. Estava extremamente debilitado. Estava com uma tuberculose avançada. O homem foi colocado num leito próximo ao de um moribundo agonizante que tremia e gritava convulsionado intermitentemente.
Algum tempo depois o homem foi transferido daquele amontoado de renegados enfermos para um sanatório particular, o Kierling, em Klosterneueberg, perto de Viena. Ali, no dia 3 de Junho de 1924, há 87 anos, morreu Franz Kafka, aos quarenta e quatro anos.

Até ontem tal informação jazia adormecida sob o mar agitado do meu consciente. Mas por um lance de dados da sincronicidade, eu, que estava decidido a ler “Os Irmãos Karamazov”, do velho Dos, enquanto farejava a prateleira da Biblioteca Pública Anísio Teixeira, senti aflorar em mim uma incontrolável vontade de reler as obras de K.






Acabo de reler “A Metamorfose”. Acabo de apreender nuances antes ignorados pela mente apressada deste pequeno e profundo lago. Acabo de recordar, após ter acompanhado o último e curto suspiro de Gregor Samsa, que amanhã, dia 3 de Junho de 2012, farão 88 anos que o meu irmão espiritual chegou ao porto último da existência individual.




Gregor Samsa, rascunho de Rafael Medeiros

Um dia, meu tio Jorge resolveu descartar uns papéis que, segundo ele, estavam sob forte suspeita de contaminação por ratos. No meio dessa pequena proto-pira eu identifiquei um livro. O seu título: A Grande Muralha da China. O autor: Franz Kafka. Eu tinha acabado de ler o primeiro “romance” da minha vida, uma historinha escrita por um Thelemita Crowleyano arrependido e hoje católico confesso um tal Paulo Coelho. Antes eu havia lido alguns contos de livros didáticos, todos, diga-se de passagem, melhores que a tal opereta besta do PC. Ali estava eu, diante do monte de papeis que dali a pouco arderiam. Ali estava eu emerso de uma paisagem bucólica, prestes a mergulhar no demonismo claustrofóbico de um austríaco desencaixado. Peguei o livro. Meu tio me deu algumas broncas, afirmou ser arriscado tatear tudo que jazia ali naquela pré-Geena. Mas o livro gritava, estávamos imantados, e eu não opus resistência. Foi o primeiro Grande Livro que eu li, e desde então, Franz Kafka habita em mim, e assim será pelo resto dos meus dias, até que este asilo azul oval cobre de mim o escasso fôlego que ele a tanto custo me empresta.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

AVISO ÀS NAUS À DERIVA



Tenho concentrado meus neurônios em outras plagas, meus signos têm vibrado em outras frequências, portanto, assim que o meu louco dial re-sintonizar-se com o tom deste blog, eu volto.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Rock'n'Metal Lyrics: Megadeth. Holy Wars.




GUERRAS SANTAS... O CASTIGO MERECIDO
Irmão matará irmão
Derramando sangue pela terra
Matando em nome da religião
Algo que eu não entendo
Tolos como eu, que cruzam o mar
E chegam á terras estrangeiras
Pergunte ao rebanho, por suas crenças
Vocês matam em nome de Deus?

Um país que é dividido
Certamente não resistirá
Meu passado se apagou, chega de desgraça
Não resta nenhum tolo

O fim está próximo, é evidente
Faz parte do plano mestre
Não olhe agora para Israel
Ela poderia ser sua terra natal

Guerras santas

Sobre o meu palanque, enquanto o
Sábio estadista
Senta no banco do meu julgamento
A batida do martelo, apóia a lei
Em minha saboneteira, um líder
Determinado a mudar o mundo
Aqui em meu púlpito enquanto uma pessoa
Mais santa que você, pode ser o mensageiro de Deus

Faça a guerra no crime organizado
Ataques sorrateiros, repelem as pedras
Atrás das linhas
Algumas pessoas se arriscam a me dar emprego
Algumas pessoas vivem para me destruir
De um jeito ou de outro eles morrem
Eles mataram minha esposa, e meu filho
Na esperança de me escravizar
Primeiro engano, último engano!
Um juramento de, matar todos os gigantes
Próximo erro... não há mais erros!

Preencha as rachas, com granito judicial
Porque eu não digo isto, eu não quero dizer que esteja
Pensando nisto
Próxima ação você sabe
Eles tomarão meus pensamentos
Eu sei o que eu disse
Agora devo gritar de overdose
E a falta de assassinatos por misericórdia

Sussurros de Kassandra: O Prédio em Chamas

O prédio ardia em chamas. As pessoas olhavam, assustadas, ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido. Não houve choque, explosão, nada. Há um minuto o prédio estava intacto, e há dois minutos o prédio estava em chamas.
João Carlos há muito deixara o seu cachorro quente cair no chão, embora a sua mão ainda segurasse o vazio. Seria possível?! No seu primeiro dia trabalhando num escritório do Edifício Roriz..."Foda-se o emprego, merda, eu escapei, estou vivo, mas e as pessoas?"
Pessoas histéricas saíam correndo de dentro do prédio como formigas de um formigueiro em chamas (tochas acesas gritantes). Era a visão do inferno catequético bem ali, plantado na esquina da Rua B com a Rua D.
Sirenes apocalípticas anunciavam a chegada dos bombeiros e da polícia. Os bombeiros cobriam as pessoas em chamas com mantas, enquanto a multidão se avolumava em torno do caos. OS gritos não cessavam, e uma saraivada de gente despencava das vidraças do prédio, vindo espatifar-se no asfalto. Uma dessas saraivas humanas veio cair aos pés de João Carlos, sobre o cachorro quente. Ele recuou, em pânico. O corpo crepitava e sua pele borbulhava e enrugava-se. O cheiro de carne tostada era repugnante. Mas o rosto...o rosto estava incrivelmente intacto, embora puído.

João Calos desmaiou. Não porque um prédio inteiro tinha entrado em combustão instantânea em questão de segundos, mas por causa daquele rosto no chão, o rosto puído e contorcido que lhe fitou lacrimejante, e cujo espanto estampado antes do último suspiro espelhou-se no homem em pé, antes de desmaiar.. Espelhou-se não somente por semelhança de expressão, mas porque eram cornucópias um do outro.

O soldado Ulysses Costa Mendes teria uma boa história para contar, e uma grande pulga atrás da orelha, caso o corpo colado ao do rapaz desmaiado não estivesse já completamente em chamas, devido a um outro corpo que viera tombar próximo a ele. Para o bem da sua própria sanidade, o soldado Costa Mendes só encontrou um João Carlos Almeida Júnior.
Quanto a este último, teria a sanidade resguardada por médicos gabaritados que o convenceriam de que "a sua visão de si mesmo ardendo não passou de um delírio, uma projeção decorrente da proximidade da morte."

Quanto a um prédio de dez andares que entra em combustão instantânea, os mecanismos geradores de discursos seriam hábeis em convencer a população de qualquer coisa. Afinal, eles vinham há anos convencendo essa mesma população de que, por direito divino, um punhado de gente poderia escravizá-la, condenando-a à mais extrema insalubridade. Não, não seria um caso desses que os deixaria seriamente preocupados. Nada de que um informe extraordinário do plantão jornalístico não desse conta. As vinhetas todos já conhecem. E poucos são os que, ao toque dessas trombetas alarmantes, não correm loucos para a frente da TV mais próxima. Ávidos de morte.

http://sussurrosdekassandra.blogspot.com

quarta-feira, 20 de abril de 2011

olá amigos!

Por mais que eu tenha evitado o processo de triagem, o baile das faíscas sígnicas que eu venho mantendo atiçadas há mais ou menos 4 anos chegou a um ritmo de atividade tal que o referido processo se tornou imperativo. Resumo da ópera: criei mais blogs/feudos onde eu posso manter a neurose em níveis aceitáveis através do simples exercicio do poder/criação. Sem mais delongas, aqui vão os endereços/descrições:

http://sussurrosdekassandra.blogspot.com/
Aqui eu publico textos que se enquadram no campo do fantástico/absurdo/surrealismo/non-sense/horror/saci-fi. Pode-se dizer que é aqui que o Princípio do Prazer fala mais alto.

http://haicacos.blogspot.com/
Aqui eu publico meus haicais profanos e hereges, via de regra fora da métrica tradicional, e versando sobre outras imagens[mais condizentes com a realidade ocidental/brasileira/baiana]
Monge Budista incendeia seu corpo em protesto contra a opressão sofrida pelos Budistas no Vietnã. Saigon 1963



Silente
o Buda cala
mas não consente

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Recortes: Gramsci. Sobre os Indiferentes.



Antonio Gramsci
11 de Fevereiro de 1917

--------------------------------------------------------------------------------

Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917
Origem da presente Transcrição: Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci"
Tradução: Pedro Celso Uchôa Cavalcanti.
Transcrição de: Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive
HTML de: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License


--------------------------------------------------------------------------------

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.

A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.

Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.

Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.

Rock'n'Metal Lyrics: Death. Trapped In a Corner

Antes de tudo peço perdão por não ter incorporado nenhum vídeo, estou numa lan-house cujo navegador desatualizado não permite tal ação.
Bom, essa será a primeira de muitas postagens contendo traduções de letras de Rock e Metal. Com isso eu pretendo ajudar um pouco a combater o preconceito que alguns têem com essas formas contra-culturais de arte urbana-jovem, sobretudo no que tange às formas mais "extremas" de Heavy Metal(Thrash, Death, Crossover, Crust/Grind, etc.). O que me motivou a tal ato foi uma experiência direta que tive com um conhecido que cobriu-me com assertivas de ódio e preconceito após eu ter-me revelado apreciador dessas músicas, e vivenciador da subcultura que as cercam. Não irei aqui discorrer sobre Rock/Heavy Metal. A intenção é tornar esta seção do blog uma espécie de "ponto de encontro" de letras e textos acadêmicos que versam sobre o referido assunto. Boa leitura!



Trapped in a corner/Preso em um canto

Quero assistir você se afogar em suas mentiras
O fim de seu baile de máscaras
Uma questão de tempo
Mentiras intricadas, dominação, controle
Alimenta sua natureza distorcida
É repugnante ver os sonhos morrerem
Uma palavra de conselho:
A paciência do destino está se esgotando
Uma farsa para a sua mente e sua aparência
Você não realizará os sonhos a destruir
Com o tempo você se encontrará
Preso em um canto
Essas quatro palavras meu amigo
Eu prometo que você não irá esquecer

Sou um de tantos
Que vêem através de suas mentiras
Se esconder não adiantará
Muitos buscam vingança
Logo se tornará uma vítima
Do que você viveu para criar
E não pode ter
É repugnante ver os sonhos morrerem
Uma palavra de conselho
A paciência do destino está se esgotando
Uma farsa para a sua mente e sua aparência
Você não realizará os sonhos a destruir

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Todo mês de Abril eu me recordo...

Em 28 de abril de 1945 - Mussolini e a sua amante Clara Pettacci, são presos e enforcados pela guerrilha comunista ao tentar sair da Itália

sábado, 12 de março de 2011

Mural: Budo



Samurai de verdade.

Mural: Exame para faixa vermelha



Eu Sensei Rui César, que dirige o nosso Dojo. Um Samurai...
às vezes me sinto como um robô a óleo diesel
que sorveu cinco litros de gasolina,

(lunático
extático
neurótico)

combalido no embate,
debatendo-se embebido em sangue de filme B
deixando minha última assinatura numa mancha que cresce
no paredão enquanto caio aos poucos atritando-me ao concreto
olhando fixo para os executores que já fumam e conversam.

a fumaça do escapamento está ficando mais e mais suja,
e eu mastigo meus próprios parafusos soltos
enquanto contemplo o lento expandir-se da ferrugem

(uma parede de recifes afiados que queimam a carne
como a beleza de uma rosa viva, ou uma nascente de lama
numa planície de pedra.)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Haicais sazonais em memória de meu avô/pai

o verão chegou,
meu avô se foi
com a Primavera.



o último vento
da primavera
levou o meu avô.


rolinhas em revoada.
levam nos bicos
meu avô e a primavera.

Após ler Cabral

um verso raso, claro,
límpido como um lago
incrustado no vácuo.

um verso preciso,
em que não divago,
mas digo, certo como um tiro.

uma poesia pétrea,
que não tremule,
como flâmula, ou flama,
e que abra caminhos na carne de quem lê,
como lâmina.