sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ao lado do rio Letes

Há visões noturnas,

há sonhos asfixiantes,

há gritos na madrugada

e a cama inundada em suor.

Mas àquele que vencer

será dado o Selo de Caim,

os Olhos da Serpente,

o Fogo Prometeico,

& a Cauda do Portador da Luz.

E ele habitará a Terra de Nod,

onde brotam nascentes

com a doce saliva de Sophia.

Mas cuidado,

os guardiões da Fonte são de fogo,

e seus gládios, impiedosos.

Declame a sentença correta,

e jamais esquecerás de quem tu és.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Quem refreia o desejo assim o faz porque o seu é fraco o suficiente para ser refreado; e o refreador, ou razão, usurpa-lhe o lugar e governa o inapetente."WILLIAM BLAKE

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lennon


by Rafael Medeiros

Lennon, Lennon.
Segues tão religiosamente
este teu ritual de deitares
no muro ao por do Sol,
que já desconfio
que és tu que O põe.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Abortos

abertas sentinas,
fétidas flores olhando
(estupefatas).

os fetosfezes:
pedaços de nós,
restos de nada
que quando sólidos
põem inveja nos nossos
rarefeitos caracteres.

neste caso,
a descarga é uma vingança.

Merda:
olhamo-la de soslaio,
como Narcisos
receando o espelho.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

quarteto desempacado

o verão brinca sobre nossas cabeças,
talhando rugas em faces,
sulcando ares e amores
(amarelando-os)
plantando rusgas entre os homens,
deprimindo flores,
exaltando humores,
exalando odores.

e as dores de cornos (mornos)
ficam mais quentes no verão,

viram tangos gardélicos,
bregas psicodélicos.

chove lava no verão!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

à fauna fanática

o fazer
autocrático
suprime o
pensar
autocrítico
&
torna
o ser
em
pistola automática
des-miolada
bitolada
projectando verborrajadas
puramente
dog-máticas:
Au! Au! Au!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Nota e som do Television



Caras e caros. Como ainda não possuo computador, este blog estará sem novas postagens enquanto durar o carnaval, visto que eu dependo de lan-houses e os donos destas estão pulando atrás de trios elétricos neste período. Muito grato por me acompanharem, e até breve!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Chuva torrencial.

O passarinho carrega
O azul do céu nas costas
Para que não se perca:

Solzinho.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Toda Rigidez é Cadavérica

Essa sua baba lógica

Essa sua besta asmática (Matemática)

Essa sua alma flácida

Seu andar esquálido

Seu fazer monótono

que é um não-fazer platônico.

Esse seu olhar misógino

Anti-erótico, despótico,

Dispara o meu alarme anti-alérgico.

Você é um pé no estômago do âmago,

Monólito apático, patético, anti-poético,


Você não vale um vômito.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Deuses Negros



Thelonious monkeando tudo
telúrico ricocheteando projéteis
rimas ricas porém tortas
chicoteando colchões harmônicos
colcheias semi-colcheias
e o pulso surdo do baixo
e o retumbaixo do bumbo.

Ah! Essa autonomia do jazz
esse belo descentralismo
tem tanto a nos ensinar
e nós tão pouco ouvidos para tudo isso
para a gangue do Monk
O Charles Rouse tecendo Ilíadas por segundo no sax tenor,
queimando mil Tróias a cada sopro ígneo.
O Monk levantando vez em quando dando um saque em tudo
(no funcionamento da coisa)

Ah! Poderíamos aprender tanto
desse fazer a coisa e divertir-se com ela.

E o contrabaixo ponteia tdo
como um tecido azteca,
E o Monk gera Cosmos e Cosmos com os negros dedos
enquanto uma gota de suor pinge da sua barbicha pontiaguda
como um mundo agonizante que teme desprender-se
mas sabe que cedo ou tarde vai acontecer,
Cedo ou tarde a gotícula vai desabar na orgia de notas.

E o que somos nós, além de gotículas de suor na barbicha do Monk?

De repente a maré orgíaca cessa um pouco,
e a água aos poucos revela um deus negro
sentado no seu trono percursivo
encharcado, com musgos e siris pendentes.
Ele ataca as caixas com a serenidade de um Buddha
e a letalidade de um arqueiro zen,
ou um Oxóssi Apolo negro.

Tenho medo que num estampido do Deus Riley,
esteja guardado o meu Satori, como uma mina,
e a minha mulher chegue da rua
e me encontre paranirvânico, na cama.

A maré volta, aos poucos,
e aos poucos o Deus vai submergindo,
para voltar à sua atuação subaquática quântica intratômica,
e eu, em estado catártico, cataléptico,
como o primeiro grego que assistiu à primeira tragédia.

Penso seriamente em dar um tempo no jazz,
mas desconfio da aplicabilidade disso
na realidade empírica.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Corais

Um quarto e sala num bairro estranho
não assusta tanto,
Se você já é um estrangeiro nato.
Se os atuais vizinhos são inéditos,
pouco importa,
Pois as casas-ilhas da ilha de ontem
abrigavam as mesmas brigas
de homens-ilhas incomunicáveis
Solitários bancos de areia
esperando somente serem engolfados
pelo mar circundante,
Ou uma súbita erupção do miocárdio,
no caso das ilhas vulcânicas
( adormecidos furúnculos telúricos ),
e como dormem!

Nada de novo sob o teto do ovo concreto,
Apenas os velhos fantasmas
que acompanham o caminhante
aonde quer que ele vá.