terça-feira, 30 de novembro de 2010

Seus dedos

seus dedos de exegese
querem dissecar meus poemas,
drenar-lhes a seiva,
e após mumificados, dissecá-los,
torná-los pó de mesa abandonada.

teu funil, para mim, é uma ameaça.
o teu imaginário é um bairro vazio.
o beijo dos teus olhos gela-me a espinha
como um bando neonazi num beco deserto.

você não é alguém com carne osso
e nome de batismo.
você é o canto mesquinho e frio do homen,
o ninho de víboras,
o Javé carrasco que a tudo que toca
torna estátua de sal.

você é aquilo com quem jurei nunca mais comungar
até que a morte me espalhe.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sua Sombra

Sua sombra será vista na selva,
com detalhes em lama, merda e beijos esquecidos.
Você acabará, como tudo,
e o lobo uivará seu melhor uivo em milhares de anos.

As árvores dessa tarde dão um lento adeus ao seu cadáver,
que segue boiando na lágrima ensangüentada dos dias.

E os dias são de carros,
e os dias são de fodas loucas na cama velha,
e os dias são de tédio,
olhares vaziosde “que porra estou fazendo aqui?”

E os morcegos se fingem de cegos,
caçando mosquitos,
vigiando a lenta marcha do que sobrou do teu cadáver
soçobrante.