segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Poemas de livros hipotéticos: Sonho

Seduzo a besta,
e acaricio-a suavemente com dedos de aço.
Nunca quis abrir aquela porta,
embora ela brilhasse e meus olhos doessem,
e os olhos vermelhos brilhando ao fundo
sempre me seduzissem antes de dormir.

Entro na porta,
subo as escadas,
meu coração espera, batendo,
num altar de escamas verdes.

Grito,
ao descobrir que nada bate ali,
e que sempre vivi a orla exterior
da minha galáxia-vida.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Poemas de Livros Hipotéticos: Hecatônquiros. Poema 1.

poema é punheta, punhal,
pílula do dia presente,
pústula purulenta,
putrefação infestada de vermes em festa
(letras).

poema é pó, pergunte e ele te responderá,
diluído em suco gástrico,
semente nerudiana ardendo em sulcos na página.

(pélvis só, gotejando sumo, triste pau mole, sumô solitário).

poema é postulado de loucos sem apriorismos,
post-script, post-mortem do poeta,
pilar de ossos na montanha negra
em meio à treva devastada.

(cuspe de morfético. morfina de efeito inverso, jogo de espelhos que se erram).

alvo escuro crivado de incertezas,
o poema é sempre um eco
emergindo do oco.

os melhores poemas
são secos como socos.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Poemas de Livros Hipotéticos: Hecatônquiros. Poema 2

2.
Pela fresta da página,,
pelos pêlos da epiderme
(branco-osso, linhas azuladas,
ventos gélidos surfando a face).

Memória, criação, reciclagem de palavras,
latidos de cães lactentes,
e um pulsar agonizante,
trasladando um pulsar suspenso em nebulosa.

[Tessitura, partitura, rompimento com o sorumbático emocional absoluto]

Tomo o pulso do poema,
e ainda há vida nele,
e se há nele, há em mim.

Latrina de todas as fezes,
Mãe-mor de todas as fossas fétidas,
concubina de Satanás num harém do inferno,

há um deslimite mas o jorro embora impetuoso sempre encontrará paredes e canais
por mais largos que esses sejam
(a língua, sintaxe, ser minimamente compreendido).

Entre solipsismo e comunicabilidade,
uma árvore cresce, com raízes espraiadas,
mil braços de Avalokiteshvara,
e em cada mão, um objeto,

um lutador cercado
cuja concentração da atenção
significa morte.