Ricardo sorvia todo dia
Uma dose do Veneno,
Que o matava lentamente,
E em um ano o exterminaria.
Por que tomava? Não sabia,
Sua dama também não,
Mas tomava, também ela,
E seu Flavinho, ano que vem,
começaria.
***
"A Virtude", como chamavam a bebida,
Pertencia ao Supremo De Cada Um,
E o deles era Carlos:
Homem forte, rosado, robusto,
e sobretudo risonho.
***
Um dia, meio do ano,
Organizados, embandeirados em bandos,
Um grupo seduziu
Ricardo e família.
O plano engenhoso o empolgou
E fez arder seu coração:
Matar todos os Supremos de Cada Um,
E roubar o "Remédio",
Que guardavam no armário da cozinha.
***
Não me delongo no processo,
Pois já fisga-me o sono
E escasseia-me o vinho.
Mas o fato é que fizeram,
Cumpriram o programa:
Deram cabo dos chefes,
E roubaram os venenos.
***
Mas ao fim e ao cabo,
Algo aconteceu de interessante:
Todos empossados do Veneno
Decidiram continuar tomando-o.
Todos, menos Ricardo,
e família,
Que a contragosto dos Líderes do levante,
Estourou a garrafa malsã
Na cabeça do adormecido Supremo,
E ateou fogo na sua casa,
Com ele, veneno, e tudo.
sábado, 30 de janeiro de 2010
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
No velório das Vinte Virgens
No velório das Vinte Virgens
Verdes,
o chá é servido ainda vivo
e cinco Dominações de Fogo
guardam as portas de eletro.
No velório das Vinte Virgens
Verdes,
Júpiter chora ajoelhado
macerando com as rótulas rubustas
seus filhos
regurgitados,
e Bob Dylan tem um olho de luz.
Dez Virgens eram bruxas,
Dez eram imaginárias,
mas os vinte caixões estão
pesados.
Porque eram verdes, ninguém sabe.
Porque eram virgens, tampouco.
Só o que se sabe
(e se burburinha no velório)
é que tombaram todas, tesas,
ao mesmo tempo,
no tapete da sala de estar.
Verdes,
o chá é servido ainda vivo
e cinco Dominações de Fogo
guardam as portas de eletro.
No velório das Vinte Virgens
Verdes,
Júpiter chora ajoelhado
macerando com as rótulas rubustas
seus filhos
regurgitados,
e Bob Dylan tem um olho de luz.
Dez Virgens eram bruxas,
Dez eram imaginárias,
mas os vinte caixões estão
pesados.
Porque eram verdes, ninguém sabe.
Porque eram virgens, tampouco.
Só o que se sabe
(e se burburinha no velório)
é que tombaram todas, tesas,
ao mesmo tempo,
no tapete da sala de estar.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
LENDO UMA PEDRA
não sei ter o recato
da maior fatia dos nossos poetas.
quando fito o gato
algo me vem das panteras
e felinos extintos
que me lascera o peito
e não aceita comedimentos.
ler a pedra é possível,
e de-cifrar coisas
irrecifráveis em caracteres de imprensa.
a história da pedra é contada
em suas rugas entrâncias
em tranças de transe
em transas.
hora,
sob certa luz,
a pedra é um país cinzento,
com rios, defuntos fósseis
e encostas estonteantes.
reino de insalubridade,
eu o chamo Másdül.
sobre a palma, a pedra é Lingam,
fálico signo emanando não sei quê
que dá ganas de tacar fogo em mil Tróias.
não vejo como minha missão
desentranhar poesia da pedra.
apenas reflito:
já que a pedra
(símbolo do fixo e sizudo)
não é assim,
comedida como velha beata viúva,
porquê seria eu?
da maior fatia dos nossos poetas.
quando fito o gato
algo me vem das panteras
e felinos extintos
que me lascera o peito
e não aceita comedimentos.
ler a pedra é possível,
e de-cifrar coisas
irrecifráveis em caracteres de imprensa.
a história da pedra é contada
em suas rugas entrâncias
em tranças de transe
em transas.
hora,
sob certa luz,
a pedra é um país cinzento,
com rios, defuntos fósseis
e encostas estonteantes.
reino de insalubridade,
eu o chamo Másdül.
sobre a palma, a pedra é Lingam,
fálico signo emanando não sei quê
que dá ganas de tacar fogo em mil Tróias.
não vejo como minha missão
desentranhar poesia da pedra.
apenas reflito:
já que a pedra
(símbolo do fixo e sizudo)
não é assim,
comedida como velha beata viúva,
porquê seria eu?
sábado, 16 de janeiro de 2010
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Pseudo Eremitério
num antigo rack,
um Dostoievski,
obras completas
vol.II (em stand by).
ao lado a história
do simbolismo brasileiro
(do Massaud)
onde eu descobri, estupefato,
o Kilkerry,
que quase kill me
de susto,
pois era de Santo Antônio, o de Jesus.
eu, no tapete ideo-gramado,
(o gato dorme ao lado).
Drummond
(completo) é
o travesseiro
(volumoso)
ao sul de mim
ergue-se minha pequena
Babel suspensa,
ou Alexandria de quintalejo.
o resto
é um qualquer-quarto
(salvo as pixações).
o ventilador bafeja
um vento de deserto
enquanto eu leio
como um ilegítimo
eremita
eu leio Maia.
uma impressão encadernada.
(nunca achei o Maia pra comprar)
um Dostoievski,
obras completas
vol.II (em stand by).
ao lado a história
do simbolismo brasileiro
(do Massaud)
onde eu descobri, estupefato,
o Kilkerry,
que quase kill me
de susto,
pois era de Santo Antônio, o de Jesus.
eu, no tapete ideo-gramado,
(o gato dorme ao lado).
Drummond
(completo) é
o travesseiro
(volumoso)
ao sul de mim
ergue-se minha pequena
Babel suspensa,
ou Alexandria de quintalejo.
o resto
é um qualquer-quarto
(salvo as pixações).
o ventilador bafeja
um vento de deserto
enquanto eu leio
como um ilegítimo
eremita
eu leio Maia.
uma impressão encadernada.
(nunca achei o Maia pra comprar)
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Mo(e)ndas Pt.II: Dagon Moloch, a Grã Moenda.
e eu fico na tristeza,
e ponto?
tristeza escrota, cínica,
de filho da puta covarde,
de Pilatos lábiomuxoxando,
lavando as mãos(captomeneando)?
Não.
seria tomar por mal
o malogro.
a Moenda Mor malogra destinos humanos;
escrutina-os,(até os escrotos),
revista-os, re-prime-os,
rela suas faces contra a parede
esfacelando-as, tirando sangue,
imprimindo miolos no concreto
do trabalho desumano,
despe-os
escamotea-lhes as di-vergências,
con-verge-os na tora,
e deixa-os murchos,
à mercê das outras moendas:
as menores.
e ponto?
tristeza escrota, cínica,
de filho da puta covarde,
de Pilatos lábiomuxoxando,
lavando as mãos(captomeneando)?
Não.
seria tomar por mal
o malogro.
a Moenda Mor malogra destinos humanos;
escrutina-os,(até os escrotos),
revista-os, re-prime-os,
rela suas faces contra a parede
esfacelando-as, tirando sangue,
imprimindo miolos no concreto
do trabalho desumano,
despe-os
escamotea-lhes as di-vergências,
con-verge-os na tora,
e deixa-os murchos,
à mercê das outras moendas:
as menores.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Camel Lady Fantasy Live 1976 (Hammersmith Odeon). Partes 1 e 2
Sim, eu sei que no geral som de poeta é jazz, blues, indie, e outros estilos cult. Não nego que aprecio sobremaneira sobretudo o jazz. Mas, como me apraz romper tratados e trair ritos, também me gusta rock and roll!
sábado, 9 de janeiro de 2010
Nota às amigas e amigos que seguem este blog
Como este blog é o meu laboratório poético (um reality show do meu trajeto, ou um Diário da Deriva...), eu não tenho longas fases poéticas, como os Grandes. Todas as minhas vozes poéticas convivem aqui e agora, dentro dem mim. Ou seja: eu posso escrever um "Poema de Pedra", seco e cortante, sem explicações e áspero, e, no momento seguinte, destilar um poema surrealista valendo-me do ritmo, dotando-o de um ar encantatório. Mas eu sinto-me responsável por tratar as pessoas que acompanham-me com respeito, por isso, criei dois marcadores principais: Poemas de Pedra, e Tributo à Serpente Dã, onde eu abrigo esta duas formas poéticas diferentes. Outros marcadores serão criados, facilitando a leitura dos amigos que porventura não apreciem todas as vertentes que eu tento explorar aqui.
Obrigado, abraço a todos!
Obrigado, abraço a todos!
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
You Are My Sin, ou, Amai a Carne das Vossas Mulheres
Leio não sei que sinas,
sinais e pecados
nesta tua carne nua.
Buquê fêmeo,
efêmero corte
de cicatriz eterna.
Salivo,
olfativamente lendo-te.
O ventre
(o abismo umbilical)
vertigina-me.
Inunda-me a boca
um apetite fero
de selvático amor
carnal; animal.
Quero-te assim:
mortal.
sinais e pecados
nesta tua carne nua.
Buquê fêmeo,
efêmero corte
de cicatriz eterna.
Salivo,
olfativamente lendo-te.
O ventre
(o abismo umbilical)
vertigina-me.
Inunda-me a boca
um apetite fero
de selvático amor
carnal; animal.
Quero-te assim:
mortal.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Antifuga
as coisas já não dormem;
mordem.
braços rasgando-se
em quinas:
pontas-agulhas.
vespas ferozes, abelhas.
o som do atrito dos dias
ensurde(s)ce,
mas o pó produzido é necessário,
ainda mais as fagulhas
e as cascatas de tubos férreos
sobre o asfalto matutino,
rendendo o galo.
mordem.
braços rasgando-se
em quinas:
pontas-agulhas.
vespas ferozes, abelhas.
o som do atrito dos dias
ensurde(s)ce,
mas o pó produzido é necessário,
ainda mais as fagulhas
e as cascatas de tubos férreos
sobre o asfalto matutino,
rendendo o galo.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Anotação: Aos que descobriram João Cabral numa sala de aula. E o estudam para provas de semestre.
Você não sabe o que é descobrir João Cabral numa jornada poética pessoal e intransferível. Você abre o livro, e depara com o trecho: "Cultivar o deserto como um pomar às avessas." E aquilo fere, como uma espada desembainhada já com intenção de ferir, de matar o oponente (que é você). Aquilo corta, e você começa a colocar as tripas para dentro, às pressas, para não morrer. Você sutura o corte, mas as tripas não estão mais arrumadas como dantes, e não dá mais para encontrar tal arrumação.
Você então para de eviscerar-se nos seus poemas. E passa a desejar eviscerar os outros (os seus leitores, ainda que não existam no presente).
É como entrar para o cangaço poético. A caneta enquanto peixeira, e a palavra enquanto pedra.
Você então para de eviscerar-se nos seus poemas. E passa a desejar eviscerar os outros (os seus leitores, ainda que não existam no presente).
É como entrar para o cangaço poético. A caneta enquanto peixeira, e a palavra enquanto pedra.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
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