quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Anotação: Aos que descobriram João Cabral numa sala de aula. E o estudam para provas de semestre.

Você não sabe o que é descobrir João Cabral numa jornada poética pessoal e intransferível. Você abre o livro, e depara com o trecho: "Cultivar o deserto como um pomar às avessas." E aquilo fere, como uma espada desembainhada já com intenção de ferir, de matar o oponente (que é você). Aquilo corta, e você começa a colocar as tripas para dentro, às pressas, para não morrer. Você sutura o corte, mas as tripas não estão mais arrumadas como dantes, e não dá mais para encontrar tal arrumação.
Você então para de eviscerar-se nos seus poemas. E passa a desejar eviscerar os outros (os seus leitores, ainda que não existam no presente).
É como entrar para o cangaço poético. A caneta enquanto peixeira, e a palavra enquanto pedra.

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