quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ler

Navalhar o verso
Entalhado com esmero.
Romper-lhe a pele
Aflorando-lhe os nervos
E sorver o sumo
Solvendo-o com olhos-sóis,
Como a sorvetes.

Virar-lhe do avesso
Re-vitalizando-o
Aos poucos.
Aviltando-o,
Evitando academicismos
Como à peste.
Sendo mais seu servo
Que servindo-se dele.

Só de olhar para a coisa, fazê-la funcionar.
Entrar de cabeça na rota dos signos.
Ser signo em rotação com as letras.
Ficando pasmo ante uma imagem poética
Como um tresloucado João
Na ilha de Patmos,

Apocalipsado.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Eli, Eli, Lama Sabachtani!

- Você nunca tira essa boina?

Numa sala de sobrado abandonado. Com luz débil. Claude entrevistava o andróide, cada um numa extremidade da mesa carcomida.

- Sim, cinco vezes na semana, exceto aos domingos. Isto faz parte de um intrincado sistema metafísico-filosófico-esotérico-culinário.
- Culinário?
- Sim, é a trans-cozinha, uma forma de se alimentar somente de alimentos provenientes do Tibet.
- Você compra alimentos no Tibet?!
- Eu, não. O Grão-Comprador da OBOMMA (Ordem Boinista Oculta e Muito, Muito Antiga.)
- E ele só traz alimentos?
- Não. Traz também um sumo secreto que nos eleva a um estado místico-noético.
- Sei, e Noético vem de Noé...
- Não! Vem de Nous.
- E o que é o Nous?
- É o além do além onde não há aqui nem além.
- Vocês são tri-loucos!
- Quadri.
- Como?
- Na OBOMMA o Ser é visto como entidade quaternária.
- Quem fundou esta Ordem?
- O Neruda. E o Borges afundou. Pirandello e Gogol irão desafundá-la. Só assim o Ciclo se fechará.
- Pirandello e Gogol...
- Sim, morreram. Mas uma seita milenar fundada por um pithecantropus erectus vem protegendo os seus descendentes através dos tempos.
- A função deles é essa?
- A missão.
- Então, porque a tal seita foi fundada tão antes de Gogol e Pirandello?
- Nós não cremos no tempo.
- Explique melhor.
- Daqui não passarás.
- Como?
- Daqui não passarás. Daqui não passarás. Daqui não...ZIIIIIIIIIIIIUUUUUuuuuuuuummmmmmmmmm...

O APEM (Andróide Para Entrevistas com a Mídia) desligou-se completamente. Cabeça pendente, queixo tocando o peito.
Claude, o entrevistador, sentiu uma imensa vontade de tirar-lhe a boina cinza ajustada perfeitamente à cabeça.

Tirou.

No topo da cabeça do andróide, Claude leu, numa tela LCD (Liquid Cristal Display), o que não soube ser pilhéria, melodrama, non-sense ou mistério profundo:

PAI, POR QUE ME ABANDONASTE?
BIP BIP BIP!...A mensagem foi substituída por uma contagem regressiva em números vermelhos que começou do 10.
Claude, subitamente ciente do que se tratava, catou sua bolsa, a boina cinza, seu bloquinho, e saiu do sobrado abandonado em disparada.
A explosão se deu no exato instante em que Claude escondia-se atrás de um container de lixo, de onde fugiram centenas de ratos alucinados.

Às favas com Euclides! ou E Comte que arda no pior dos infernos!

Goya. Saturno devorando seus filhos.



É o vento que sorve as belas entranhas,
aranhas, essas filhas de Aracne,
tecem seu próprio manto alvo
letal sepultura de insetos desavisados.

Alhures os tigres são rosa e olhos de pedra
de uma face de folhas.

Maldito seja o dia em que deixamos de enxergar.
Tudo então cobriu-se de cinza,
e fez-se a Ordem, esta puta que esquina de quinta!

Antes fôssemos pássaros nuvens,
ou Saturnos de olhos esbugalhados
devorando os próprios filhos
em seqência desvairada.

Mas não,
somos cana mastigada,
Somos filhos da monocromia,
Somos ralos
E antes fedêssemos como os de banheiro público,
(antes fodêssemos em público).
Somos inodoros.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Aos grandes cérebros com pernas

Os grandes cérebros tonitroam pelas praças
Que a minha poética inexiste
E atestam a obsolescência dos meu versos
assimétricos.
Dizem que essa coisa surreal-beatnik ficou lá na California
nos 60's.
Dizem que "Não Sei Quem" ganhou a parada
E que o negócio é trabalhar e beber em bares bobos nos fins de semana.
Eu, teimoso que só a peste,
Trabalho como pica de ator pornô
E estudo noite adentro para não perder a bolsa na Católica de Salvadô.
E ainda assim, continuo fazendo o que dizem que eu não tenho mais o direito de fazer.
Ah, amigos cerebralistas,
Ó vós megalomaníacos dos campi de filosofia e sociologia do Brasil.
Conheço certos métodos infalíveis para curar a vossa crença no tempo,
Para carcomer as vossas certezas
As suas ânsias de ordem
As suas teleologias
Seus fatalismos
Determinismos
Sua mente-gueto...

Um dia uma onda me atingiu,
E carregou para longe meus brinquedinhos brilhantes.
Esta poesia não é um mero capricho,
É o que me resta!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Shally Mane



Biscoitos de fogo invadem-me a memória


assassinos à solta fugas desesperadas


marginal do rio lucaia vômito de um deus bêbado trêfego


tráfego


julgo ouvir uma voz


um grilo ruge voz de leão


a árvore do natal passado no canto


chove poeira ácaros


visões fugazes brincam de esconder nas crateras do asfalto


enquanto eu cavalgo um livro instigante


a meretriz nua sob o céu de outono púberes com acne querem fornicar contigo no quarto contíguo à sacristia em meio a estrelas de veludo e cactos de solidão coloridos.

O cão pés de mola

By Rafael Medeiros















Vinte mil ósculos de fogo
minha jaqueta até que não é má
não fossem os impostos maléficos
escrutinando minha virilha
e os out-doors infernais
exaurindo o tutano dos meus olhos.

Pisai, Senhores Rochedos
alhures, serpeando maresias
antes que seja tarde
e o Rei vindique seu trono dourado.

Ai, se o sorriso da miss Brasil
se desfizesse em vermes adiposos
sua vida faria mais sentido.

Acalenta os vícios em fúria
pois eles são teu quinhão
a parte que te cabe
do tesouro celeste
afaga o teu cunhão
pois ele parte e já não cabe em si
de ansiedade pelo Besouro Agreste
veste o mouro em verdade
o canhão traga a peste que lhe cabe
e o sabre segue o sangue
na decadência espírita do samba de uma morta só.

O cão pés de mola. Versão II

Vinte mil ósculos de fogo
minha jaqueta até que não é má
não fossem os impostos maléficos
escrutinando minha virilha
e os out-doors infernais
exaurindo o tutano dos meus olhos.

Pisai, Senhores Rochedos
alhures, serpeando maresias
antes que seja tarde
e o Rei vindique seu trono dourado.

Ai, se o sorriso da miss Brasil
se desfizesse em vermes adiposos
sua vida faria mais sentido.

Acalenta os vícios em fúria
pois eles são teu quinhão
a parte que te cabe
do tesouro celeste
afaga o teu cunhão
pois ele parte e já não cabe em si
de ansiedade pelo Besouro Agreste
veste o mouro em verdade
o canhão traga a peste que lhe cabe
e o sabre segue o sangue
na decadência espírita do samba de uma morta só.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Meus Blogs

Http://hai-quases.blogspot.com
Blog de Quase-Haicais e poeminhas.

http://aderivaentreduascapas.blogspot.com
Rascunhos livres da minha jornada literária. Uma espécie de notas à margem digital.
Que cousa é mais bela
que a causa de Nada?

Por causa de Abismo e Caos,
meus amigos
que escoam co'as causas
os móveis fluídos,
de mim zombam, caçoam, dizendo:
Tu, oh, Medeiros,
estás à deriva!

sábado, 12 de dezembro de 2009

Em meio às cartas. Frente ao menino.

Na ótica do desassossego tudo é breve.
Os caminhos con-fundidos
revelam a mais desvairada assimetria.

Quando a foto do menino começa a desbotar,
eis que já é hora de nova conversão
E uma longa conversa
travada em abismos seculares,
com o menino,
que a despeito da fotografia carcomida
e da pele esticada cheia de pelos,
insiste em fitar-nos,
e arguir, em tom de súplica:
-Que fizeste de nós?!