BETH OVER
Beth Over era surda desde não se lembrava quando. Levava sempre os bolsos em pranto, sempre com um tanto, e um tanto samurai para o caso de um casual harakiri.
Já pensara em auto sepultar-se várias vezes, em ser puta duas vezes, mas em assistente o sepuku fica sem graça. Beth tem medo, mas disfarça. Além disso tem uns truques cabalístico-xamânicos, e uma poção que a deixa cheia de viço.
Beth Over é música de ofício, e oficia missas negras cheias de groove Black-ofídico na calada da noite.
Beth Over, rainha rocker destronada desde o berço. Deixou os tímpanos no seu primeiro terço, e agora segue a vida do avesso. Sua mãe vive condenando essa sua nova mania de tripas amostra, mas ela acha melhor assim do que ser outra ostra exoesquelética fascisto-lógica tímida e casta, antes janta do Paulouco (seu namorado) que santa do pau oco.
Beth não gosta de comer pouco, assim pelas beiradas. Sempre atacou de vez a feijoada. Seu Busdhidô é uma blitzkrieg desesperada, e sua banda tem pouco solo e mais pegada.
Beth tatuou no braço “some heads are gonna roll!” e vocifera isso em cada show you know? E Beth passa a bola para Crazy Paul que destila um solo blue tôo much slow. Beth faz dduas horas de zazen e uma cerimônia do chá antes de entrar no palco. E quando entra, recebe o coro, de assalto: Roll over, Beth Over! Roll over, Beth Over!
MANHÃ DE SÁBADO
a chaminé incensando os telhados marca o zero da minha solidão.
mariposa alimentando-se do céu no vidro da porta,
pássaros trilando solares,
iluminando os trilhos da luz antes mesmo que o sol desponte.
é preciso ser louco.
ser louco e sonhar,
sonhar e ser esperto,
mas não sonhar pouco.
há um túnel entre duas interrogações,
e o túnel é uma imensa exclamação.
as respostas não têm fim,
cada batida do coração é um infarto.
o leão devora a presa.
a mariposa, empanturrada do céu de vidro,
voa rumo ao incenso quente do pão matinal.
uma nota de Coltrane emerge de um abismo grave e trovejante.
eu ainda acho que a melhor resposta ao enigma do túnel
é a folha amarela suicidando-se numa tarde fresca,
aproveitando o tempo que se estende entre o galho e o chão
para dançar.
SUA SOMBRA
Sua sombra será vista na selva,
com detalhes em lama, merda e beijos esquecidos.
Você acabará, como tudo,
e o lobo uivará seu melhor uivo
em milhares de anos.
As árvores dessa tarde dão um lento adeus ao seu cadáver,
que segue boiando na lágrima ensangüentada dos dias.
E os dias são de carros,
e os dias são de fodas loucas na cama velha,
e os dias são de tédio, olhares vazios
de “que porra estou fazendo aqui?”
E os morcegos se fingem de cegos,
caçando mosquitos,
vigiando a lenta marcha do que sobrou do teu cadáver
soçobrante.
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