segunda-feira, 5 de abril de 2010

2

II.
Se pedires com afinco
O Demônio do Fogo pode aparecer-te
Sempre à noite
Sempre em Junho.

Vais tremer ante a sua estatura
Vais correr rumo ao Velho Livro
Vais rezar por perdão divino
Vais tentar girar a maçaneta

Mas o que foi feito
não pode ser desfeito

O Esquecido irá sentar-se na nuvem
E teu quarto desaparecerá
E estarás em meio às estrelas
E à dança das galáxias

Então serás apanhado pela cintura
Cingido fortemente pelos dedos em chamas

E a dor será lascinante
E o que a ti será dito ao pé do ouvido
com voz de lava sibilante
estarrecerá vossas entranhas

E enjoarás

E vomitarás os Cânticos de Deus
E suplicarás clemência
E tua carne se rebelará em frêmitos e ardores

E despertarás suado
No leito inóspito que a pobreza te legou
Com a alma opaca que aceitou naufragar ao teu lado
e que chamas de esposa

E terás gravado a ferro no peito
o Signo Vermelho

Que contém em si a exata medida da dor e desespero
que perpassam cada vida humana

E então verás

Em limpidez de lago estático

Que não há esperança

Que não há esperança...

Nenhum comentário: