II.
Se pedires com afinco
O Demônio do Fogo pode aparecer-te
Sempre à noite
Sempre em Junho.
Vais tremer ante a sua estatura
Vais correr rumo ao Velho Livro
Vais rezar por perdão divino
Vais tentar girar a maçaneta
Mas o que foi feito
não pode ser desfeito
O Esquecido irá sentar-se na nuvem
E teu quarto desaparecerá
E estarás em meio às estrelas
E à dança das galáxias
Então serás apanhado pela cintura
Cingido fortemente pelos dedos em chamas
E a dor será lascinante
E o que a ti será dito ao pé do ouvido
com voz de lava sibilante
estarrecerá vossas entranhas
E enjoarás
E vomitarás os Cânticos de Deus
E suplicarás clemência
E tua carne se rebelará em frêmitos e ardores
E despertarás suado
No leito inóspito que a pobreza te legou
Com a alma opaca que aceitou naufragar ao teu lado
e que chamas de esposa
E terás gravado a ferro no peito
o Signo Vermelho
Que contém em si a exata medida da dor e desespero
que perpassam cada vida humana
E então verás
Em limpidez de lago estático
Que não há esperança
Que não há esperança...
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