quinta-feira, 8 de abril de 2010

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VI.
o que tanto buscamos
vidrados nas janelas do ônibus?

buscamos outros de nós,
outros olhares,
os semelhantes que passam
ao nos ver passar,
os que concorrem no páreo insano
das naus de lata?

eu busco tubérculos num céu azul,
brócolis enfiados em vaginas celestes
espreitando o mistério de tudo
enquanto abóboras guerreiam por território,
ovos fritos, saladas de olhos,
vísceras enroladas em garfos-esqueletos,
escorrendo mel,
chovendo mísseis dulcíssimos
explodindo unhas de Fênix.

um estilhaço roça a face.
o corte sangra um pouco,
mas arde faca apimentada
de vazio desértico.

o Raquítico passou por aqui,
e também o Opiólatra
e o Morfético,
os três, profetas
(olhos gastos de ver abismos
e sarças ardendo,
estas, circundam suas cabeças
como elétrons selvagens).

VII.
Micha-el é um elemento químico.
outros anjos também,
mas alguns são misturas e reações,
sobretudo psicológicas.

VII.
pobre Fênix!
pousou, desavisada,
em uma rua de Salvador,
e foi brutalmente estuprada
e executada em seguida.
por quem, não se sabe,
(estão periciando as balas)
mas no jornal
um ilustríssimo defensor dos nossos corpos
afirma, categoricamente, o motivo:
a Fênix tinha associação com o tráfico de elixires.

pobre Fênix,
tinha palavras de fogo a nos anunciar,
mas foi precocemente calada,
na calada da noite,

e doravante cada poça
é uma lágrima de
Chuang Tzu.

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