sábado, 10 de abril de 2010

Poemas de Livros Hipotéticos: Fragmentos de Mäsdul, O Arqueiro e o Abismo

Retesou seu arco.
Semicerrou os olhos.
Cantou aquela velha cantiga
que aprendera com os xamãs
em Mäsdul:

" Vento, vento
que dá na trilha
Chuva, chuva
que dá na ilha
Sol de Agosto
luz sombira
Vultos magros
girando a quilha..."

Quando toda a sua força estava condensada
estancada no braço esquerdo
e a mão direita, intrépida
roçava a barba e o lóbulo da orelha

cerrou os olhos
soltou a corda
e a seta singrou o breu sanguíneo
das pálpebras cerradas.

O que viu a Águia:
Um homem à beira do penhasco
de calças esvoaçantes, tronco desnudo,
o rio rugindo ao pé da encosta,
o arco pendente,
os olhos cerrados,
a face beatífica.

O que não vui a Águia:
Uma flecha cravada
na noite escura
do Arqueiro.

Um comentário:

jorginho da hora disse...

Pois é, nem a aguia pode se focar em tudo. Mas no caso da aguia, creio que ela estava mais interessada no belo, na visão poetica. Nesse sentido, a aguia representaria algo bem parecido com a visão do poeta.

Um abraço !