segunda-feira, 29 de março de 2010

Prece Precisa

É preciso deixar passar
É preciso libertar a espontaneidade

a graça da virtude pessoal

É preciso que cada um possa dançar
ao ritmo do seu tambor pessoal
É preciso que primaveras não forcem invernos
a florescerem
É preciso que verões não insistam
para que outonos sejam abrasivos

É preciso menos força
É preciso aprender com os rios que ainda restam
É preciso mais contornar
É preciso menos controlar

É preciso deixar que o agressor sinta
o seu próprio soco em forma de queda que choca e desperta

É preciso despoliciar-se

É preciso um amor não-terrorista
É preciso não vigiar a quem se preza
É preciso baixar a guarda

É preciso dar férias aos guardas

É preciso espantar-se
com milhares de fornalhas ardentes
milhares de vezes maiores que o nosso orbe
cada vez menos azulado

todas elas bailando conosco pelo infinito

É preciso dar-se conta de que uma das fornalhas
se faz sentir em nossas peles
tão próxima está

É preciso trocar um olhar demorado com o gato.

É preciso encarar a morte de frente
É preciso sentir a Náusea
ante a certeza esmagadora do Vazio

É preciso meditar sobre Sísifo e seu mito

É preciso minorar os apriori

É preciso demolir tudo
e partir da assumção de que a vida
é um sopro

e o ser
é o
nada

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