É preciso deixar passar
É preciso libertar a espontaneidade
a graça da virtude pessoal
É preciso que cada um possa dançar
ao ritmo do seu tambor pessoal
É preciso que primaveras não forcem invernos
a florescerem
É preciso que verões não insistam
para que outonos sejam abrasivos
É preciso menos força
É preciso aprender com os rios que ainda restam
É preciso mais contornar
É preciso menos controlar
É preciso deixar que o agressor sinta
o seu próprio soco em forma de queda que choca e desperta
É preciso despoliciar-se
É preciso um amor não-terrorista
É preciso não vigiar a quem se preza
É preciso baixar a guarda
É preciso dar férias aos guardas
É preciso espantar-se
com milhares de fornalhas ardentes
milhares de vezes maiores que o nosso orbe
cada vez menos azulado
todas elas bailando conosco pelo infinito
É preciso dar-se conta de que uma das fornalhas
se faz sentir em nossas peles
tão próxima está
É preciso trocar um olhar demorado com o gato.
É preciso encarar a morte de frente
É preciso sentir a Náusea
ante a certeza esmagadora do Vazio
É preciso meditar sobre Sísifo e seu mito
É preciso minorar os apriori
É preciso demolir tudo
e partir da assumção de que a vida
é um sopro
e o ser
é o
nada
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